Sobre a proposição de temporalidades na história das infâncias e juventudes brasileiras
o caso Funabem (1964-1989)
Resumo
Este artigo aborda os caminhos de uma investigação acerca da experiência da Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor – Funabem na gestão das políticas sociais para infância e juventude no Brasil, entre 1964 e 1979. A narrativa é resultado dos meus estudos de doutoramento, cujo objetivo foi analisar as condições de possibilidade do imaginário que atrela infância pobre e delinquência juvenil, inquerindo sobre a contribuição da instituição para sua consolidação. As fontes documentais centrais do estudo são reportagens do veículo oficial da Funabem, a revista Brasil Jovem, editada entre 1966 e 1978. Os pressupostos teórico-metodológicos mobilizados foram, além da análise do discurso (FOUCAULT, 2000), a História do Tempo Presente (ROUSSO, 2016) e as categorias analíticas espaço de experiência e horizonte de expectativa (KOSELLECK, 2014). A análise documental, à luz do referido arcabouço teórico, permitiu a proposição de duas temporalidades: a "Funabem-promessa" (1964-1979), momento marcado pelo fazer-se institucional e por um sentimento auspicioso de futuro em relação à gestão das infâncias e juventudes brasileiras, e a "Funabem-estigma" (1979-1989), conjuntura na qual estavam escancarados os vícios institucionais e a violação de direitos humanos ocorrida em suas instituições e/ou a cargo de seu corpo técnico.
Palavras-chave:
Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor, História do Tempo Presente, Revista Brasil Jovem, Infância e juventude, TemporalidadesLicença
Copyright (c) 2022 Camila Serafim Daminelli
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Referências
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